Os sujeitos (agentes) e os textos (verbais, imagéticos, audiovisuais e matemáticos)
Nas últimas décadas avolumaram-se as pesquisas no campo da Educação em Ciências preocupadas com a questão da leitura pelos estudantes (da educação básica ou superior). Essas pesquisas enfocam fundamentalmente os estudantes como sujeitos que, nas práticas educacionais, lidam, inevitavelmente com objetos textuais, objetos simbólicos, sejam verbais, imagéticos ou mesmo matemáticos. Também enfocam as leituras dos formadores de professores e dos professores da educação básica em seu papel de agentes de mediação de leituras.
Quais as relações entre textos e sujeitos? O enfoque nos textos é outra maneira de pensar a questão dos sujeitos na relação com o conhecimento e com o mundo mediada pelo conhecimento científico.
Numa concepção discursiva, a leitura é produzida em determinadas condições históricas, tanto as imediatas quanto as condições mais amplas.
No entanto, se o foco recai na relação textos-sujeitos, sabe-se pouco ainda sobre os textos nas suas relações com o conhecimento científico. O texto, a dimensão simbólico-textual tem sido sistematicamente obliterada. Apenas recentemente a dimensão simbólico-textual vem fazendo parte dos Estudos da Ciência, seja da História, Epistemologia ou Sociologia da Ciência.
Daí nosso enfoque, recorte de pesquisa hoje se centrar nos textos. Em todo que qualquer texto que participe de alguma forma da circulação do conhecimento científico. Não porque “tudo é texto” ou porque “esquecemos” os agentes do conhecimento. Muito ao contrário, porque o empoderamento, a autonomia dos sujeitos, na sua inescapável relação com o simbólico, depende do modo como compreendemos os textos, depende do modo como considera-se sua presença e existência material, sua historicidade, os controles do quais ele é produto e os quais ele ajuda a produzir e reproduzir.
Os sujeitos são constituídos essencialmente pela sua relação com a dimensão simbólico-textual. Essa dimensão tem materialidade. E faz parte das políticas de controle sobre os sujeitos, o apagamento, a manutenção e reprodução da sua invisibilidade. Os textos não apenas escritos, produzidos ou lidos pelos sujeitos, eles conformam, configuram, controlam posições de produção, leitura e interpretação do mundo. Por isso, consideramos importante trazê-los à tona, torná-los objetos de pesquisa no campo dos Estudos da Ciência e da Educação em Científica e Tecnológica.
Henrique Silva