Buracos negros em Jornada nas Estrelas (Star Trek)

09/04/2019 12:12

Os objetos da física e os objetos da arte podem ser construídos em trânsitos interessantes. Que vale a pena ser investigados. Ao invés de pensarmos o cinema e outras formas de linguagem audiviosual apenas como “conteúdos” e “instrumentos” ou “recursos” de ensino, ao invés de olharmos para cinema apenas procurando pelos “erros”, podemos ousar pensar a constituição dos objetos de que falamos, também na ciência, em outras linguagens e práticas culturais. Para isso, é preciso dar visibilidade às formas textuais desses objetos. Este é o caso do trabalho de mestrado da Alessandra Teixeira que nos proporciona ver os buracos negros na forma audiovisual da ficção científica de Jornada nas Estrelas (Star Trek).

Banca da Defesa de Mestrado de Alessandra Teixeira. Prof. José Claudio Castanheira (Cinema/UFSC), prof. Henrique Silva (Física/MEN/UFSC) (orientador), Alessandra, prof. Juliano Camillo (Física/MEN/UFSC) e prof. Luis Paulo Piassi (EACH/USP).

 

A dissertação, defendida em março de 2019, tem como título BURACOS NEGROS NA LINGUAGEM AUDIOVISUAL DA FICÇÃO CIENTÍFICA: ANÁLISE DE “JORNADA NAS ESTRELAS”. E em breve estará disponível na página do PPGECT.
Deixo a seguir a sinopse do trabalho.

Nesta pesquisa foi desenvolvida uma análise da linguagem audiovisual de duas séries e um filme da franquia de ficção científica utópica Jornada nas Estrelas: o episódio Amanhã é Ontem de “Jornada nas Estrelas – A Série Clássica” (1966-1969), os episódios Paralaxe Caçadores de “Jornada nas Estrelas – Voyager” (1995-2001) e trechos do filme “Star Trek” (2009). Tais obras têm um elemento comum em seus enredos: os buracos negros. Em algumas obras o buraco negro é tema central, enquanto em outras atua como pano de fundo, levando a outras causalidades. O ambiente temporal se passa nos séculos XXIII e XXIV (dependendo da obra) e o espacial é a própria Via Láctea, pois são histórias sobre seres humanos, cuja jornada se iniciou no planeta Terra. A análise buscou identificar elementos da textualização audiovisual que produzem efeitos de sentidos sobre buracos negros, e como estão associados ao que a linguagem audiovisual nos faz lembrar, ainda que inconscientemente. Utilizaram-se como referencial elementos da linguagem audiovisual, fundamentados em Xavier (2008) e Bordwell e Thompson (2013); elementos da ficção científica, fundamentados em Piassi (2007, 2012) e discussões relativas à comunicação científica em Fleck (2010). As análises buscaram mostrar os diferentes termos usados para buraco negro em cada episódio analisado (em trechos de cenas), as diferentes participações dos buracos negros nas narrativas, as diferentes visualizações dos buracos negros e os diferentes aspectos científicos relacionados com buracos negros em cada episódio e filme. Os resultados obtidos permitiram mostrar que o buraco negro nas narrativas possui impacto direto nas tramas que se desenrolam, ou seja, o objeto não serve apenas como recurso ou um detalhe científico; ele acaba fazendo parte do enredo de forma efetiva. Este é um aspecto apontado como característico do trabalho de Gene Roddenberry, criador de Jornada nas Estrelas, pois em sua concepção, a ficção científica trata sobre histórias de pessoas, não de objetos científico-tecnológicos. O foco está no indivíduo e como ele interage com as tecnologias, individualmente e coletivamente. Os efeitos de sentidos da atração gravitacional do buraco negro nos episódios foram bastante evidentes, com os movimentos de câmeras, os puxões que as naves sentiam e até rachaduras no casco da nave (no filme de 2009). Outro aspecto que merece destaque é a imagem do buraco negro que sofreu alterações consideráveis ao longo dos anos: no episódio da Série Clássica não há imagem exclusiva que remete ao objeto, enquanto na Voyager há diversas imagens, com diferentes padrões de cores, com destaque para o segundo episódio em que os efeitos sonoros lembram o som de uma tempestade, fazendo o telespectador lembrar que o buraco negro é algo negativo. A forma como os planos e os ângulos variam, o que é mostrado na tela e o que não é, os efeitos visuais, a sonoplastia, as falas, ou seja, a montagem de cada obra encarna um buraco negro diferente, mas com semelhanças sutis. Esses estudos abrem um leque de possibilidades para a inserção de leituras da linguagem audiovisual da ficção científica no ensino de física no ensino médio e em cursos de formação inicial e continuada de professores de física. No contexto da educação científica e tecnológica, justifica-se pela capacidade que a televisão, o cinema e a internet têm de impactar na sociedade e influenciar diferentes culturas. A ficção científica, em seu formato de filmes e séries, pode favorecer meios de identificação cultural através da aproximação entre ciência e ficção. Além disso, o gênero ganha relevância quando o assunto é educação em ciências, uma vez que apresenta variadas formas para refletir sobre o futuro e sua relação com a ciência.”

 

 

 

 

 

 

 

Tags: Buraco NegrocinemaFicção científicaJornada nas Estrelaslinguagem audiovisual
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